sexta-feira, 12 de junho de 2009

Assassinaram o Português

Ravena Brazil Vinter

“Última flor do Lácio,inculta e bela,
És, a um tempo, esplendor e sepultura:
Ouro nativo, que na ganga impura
A bruta mina entre os cascalhos vela...”

(Olavo Bilac)

Derivada do Latim vulgar e com forte influência árabe, a língua portuguesa chegou ao Brasil com Cabral, e viveu por muitos e muitos anos. Língua exaltada por Camões, por Miguel de Cervantes, por Olavo Bilac, Caetano Veloso e por muitos outros imortais.

Brasil de 1500, Brasil de 1600... Brasil com 500 anos. Nosso país possui várias caras, várias identidades, culturas e costumes, mas uma única língua. Creio ter cometido um erro no parágrafo anterior. Disse que a língua portuguesa viveu... No entanto ela ainda vive, ou ao menos sobrevive.

Meus avós contavam que a educação em sua época era rígida. O português era muito valorizado dentro e fora das salas de aula. A constante cobrança dos pais e professores incitava o desenvolvimento da inteligência dos alunos. A leitura e a produção de textos e poemas eram mais valorizados.

Então surgiu a TV. Ah! A TV.... TV de Assis Chateaubriand que valorizava a estética, buscava informar e informar corretamente. Com a TV surgiram os famosos, atrizes, atores, cantores, políticos. Todos quiseram seus 15 minutos de fama. Surgiram assim os “trapalhões” e as “trapalhadas”, e a TV, que era instrumento informativo e de entretenimento para nossos pais, passou a ser fonte de “educação” para os nossos filhos, roubando o papel da escola.

Certo dia ligo minha TV em um programa local e ouço uma “super promoção” anunciada pelo apresentador: “Você vai tá ganhando uma fatia de pizza”.... e ele vai “estar cometendo” dois erros gravíssimos.

Enquanto professores da alfabetização lutam para que seus alunos aprendam a importância das letras “r” e “s” nas palavras. O presidente, Lula, candidato à reeleição em 2006, em um debate com Alckmin na TV, cumprimenta os telespectadores da “rádio bandeirantes”, e diz a seu oponente: “Não queira que em quatro anos eu conserto o que vocês destruíro em quatro século”. Sem falar no caso dos “sanguessunga” e da “petrobais”.

Vivemos em um Brasil onde as músicas eruditas, a bossa nova, a tropicália, e a jovem guarda, com suas letras que misturavam cultura e poesia, deram lugar a canções como: “creu...”, “dói, um tapinha não dói”, “popozuda vem aqui com seu tigrão” ou até mesmo “segura o tchan”.... A propósito, a palavra tchan tem tradução na língua portuguesa? Machado de Assis e Olavo Bilac talvez estejam se “remexendo em seus túmulos”.

Na igreja o ministro de música convida a todos que se coloquem “de pé” pois nós “vamos estar cantando” um cântico. Em outra oportunidade, fui ao açougue comprar carne, quando um rapaz pede ao açougueiro “quinhentas gramas” de determinado produto. Não sabia que vendiam grama no açougue...

No trabalho ouço um cidadão pedir um celular com “vibrador”. Ora são situações que constrangem! Constrangem, pois percebemos que as pessoas perderam o compromisso com nossa língua, tão bela, nas palavras de Olavo Bilac. Constrangem pois a cultura da sociedade brasileira, ou a falta dela são nosso estereótipo.

Quer capixabas, quer paulistas, quer nortistas ou sulistas, todos estamos envolvidos na massa, e dela fazemos parte. Fazemos parte de uma sociedade que valoriza a bunda e não a mente. O Brasil é um país culturalmente rico, que tem uma história de 500 anos de superação. País de um povo que luta, que trabalha, mas que precisa estudar, precisa ler e absorver o que herdamos de nossos mestres. Não podemos deixar que a última flor do Lácio dê seus últimos suspiros.

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