quinta-feira, 18 de junho de 2009

Meu pai, meu herói...

Amigos, faz quatro meses que meu pai partiu. Fiz esse pequeno texto durante o velório dele, e o Pastor Gladston leu no sepultamento. Gostaria de compartilhar com vocês. Beijos, Ravena

A morte parece tão longe. Na TV diariamente, na cidade vizinha, na casa da família ao lado. Nesse momento ela chega implacável em nosso lar provando que nossa caminhada neste mundo é passageira. Ninguém está preparado para a perda. Mas, louvado seja o nome do nosso Deus que é quem dá e quem tem o direito de levar a vida.

Deus coloca pessoas maravilhosas em nossas vidas para nos ajudar em nossa caminhada. Algumas passam... Outras permanecem eternamente, imortalizadas em nossa memória. Aos pais, Deus confia nossa educação e criação nesse mundo.

Vou falar do meu pai: Amigo, conselheiro de todas as horas, ótimo ouvinte, humilde, humano e servo do Senhor Jesus. Amava a vida, e viveu. Vivemos...Até que Deus o chamou. Exemplo para a família, sempre lutou pela bondade e promoveu a paz.

Meu pai, meu herói! Meu amor! Agradeço à Deus por cada minuto vivido ao seu lado, por todos os ensinamentos deixados e pelas boas lembranças que nunca se apagarão. Quem tem seus pais, sua família, aproveite! Aproveite cada minuto ao lado de quem você ama e nunca deixe de expressar esse amor.

Papai cumpriu sua missão. Deus o chamou e o chamado é irresistível, ele teve que partir. Em nossas mentes sempre estará viva sua memória, seu lindo sorriso, sua alegria de viver, sua vontade de viver. E que vontade....Deus o deu, porém, no tempo certo, Deus o tomou. A dor é grande, mas louvado seja o nome do nosso Senhor! Saudades eternas.

sexta-feira, 12 de junho de 2009

Sombras na multidão

Ravena Brazil

As gotas de chuva caem como pedras atiradas ao chão. O vento passeia com um barulho constante e ensurdecedor. O frio toma conta de tudo e de todos. Três pessoas deitadas como sombras em frente a uma loja de departamento em colchões sujos envoltas em panos para amenizar o frio.

Cena normal em uma cidade em “crescimento” como Guarapari, que geralmente passa despercebida aos nossos olhos. Seria mais um dia onde uma forte tempestade ocupara o fim da tarde, não fosse por um pequeno detalhe que me deixa estática por alguns segundos. Deitado ao lado de uma das pessoas havia um cachorro vestindo uma fina roupa feita com um saco plástico de lixo. Fiel e imóvel junto ao seu dono. Parei e por alguns segundos contemplei o cuidado daquela pessoa com seu melhor amigo, em ter a consciência de que ele precisava ser aquecido e ter um lugar para dormir. Continuei então caminhando rumo à minha casa onde havia uma cama quentinha me esperando e lugar adequado para os meus cães, inclusive alimento em fartura – Graças à Deus. Aquela cena jamais saiu de minha memória.

De acordo com a Wikipédia, o sociólogo francês Robert Castel (1990), definiu a exclusão social como o ponto máximo atingível no decurso da marginalização, sendo este, um processo no qual o indivíduo se vai progressivamente afastando da sociedade através de rupturas consecutivas com a mesma.

Estranho é como em uma cidade em constante “crescimento” podemos ver tantas pessoas nesse nível de marginalização. Estranho é como passamos por essas pessoas várias vezes ao dia, várias vezes em nossas vidas e não falamos sequer um “bom dia, como vai?”. É como se eles não existissem, são sombras na multidão.

Estranho é como nos conformamos em ver seres humanos e até mesmo animais em situações como essa e não fazemos nada, aliás, nada seria bom, não suficiente, mas bom. Isso porque muitos passam por um cão abandonado na rua e chutam, muitos jogam os filhotinhos de gato no rio. Aquela pessoa, que não tinha sequer um abrigo e que provavelmente não sabe se vai ter o que comer amanhã, se preocupou com a vida de seu fiel amigo.

Os moradores de rua estão à mercê de nosso pré-julgamento, porque raramente procuramos saber os motivos que os levaram até o fundo do poço e não temos coragem de estender a mão ao próximo – às vezes por egoísmo, às vezes por descuido. A atitude daquele homem nos fez ver que existe vida ali, existe amor ao próximo, existe necessidade de socorro e existe um lado bom num mundo que para muitos parece perdido.

Ravena Brazil Vinter

Assassinaram o Português

Ravena Brazil Vinter

“Última flor do Lácio,inculta e bela,
És, a um tempo, esplendor e sepultura:
Ouro nativo, que na ganga impura
A bruta mina entre os cascalhos vela...”

(Olavo Bilac)

Derivada do Latim vulgar e com forte influência árabe, a língua portuguesa chegou ao Brasil com Cabral, e viveu por muitos e muitos anos. Língua exaltada por Camões, por Miguel de Cervantes, por Olavo Bilac, Caetano Veloso e por muitos outros imortais.

Brasil de 1500, Brasil de 1600... Brasil com 500 anos. Nosso país possui várias caras, várias identidades, culturas e costumes, mas uma única língua. Creio ter cometido um erro no parágrafo anterior. Disse que a língua portuguesa viveu... No entanto ela ainda vive, ou ao menos sobrevive.

Meus avós contavam que a educação em sua época era rígida. O português era muito valorizado dentro e fora das salas de aula. A constante cobrança dos pais e professores incitava o desenvolvimento da inteligência dos alunos. A leitura e a produção de textos e poemas eram mais valorizados.

Então surgiu a TV. Ah! A TV.... TV de Assis Chateaubriand que valorizava a estética, buscava informar e informar corretamente. Com a TV surgiram os famosos, atrizes, atores, cantores, políticos. Todos quiseram seus 15 minutos de fama. Surgiram assim os “trapalhões” e as “trapalhadas”, e a TV, que era instrumento informativo e de entretenimento para nossos pais, passou a ser fonte de “educação” para os nossos filhos, roubando o papel da escola.

Certo dia ligo minha TV em um programa local e ouço uma “super promoção” anunciada pelo apresentador: “Você vai tá ganhando uma fatia de pizza”.... e ele vai “estar cometendo” dois erros gravíssimos.

Enquanto professores da alfabetização lutam para que seus alunos aprendam a importância das letras “r” e “s” nas palavras. O presidente, Lula, candidato à reeleição em 2006, em um debate com Alckmin na TV, cumprimenta os telespectadores da “rádio bandeirantes”, e diz a seu oponente: “Não queira que em quatro anos eu conserto o que vocês destruíro em quatro século”. Sem falar no caso dos “sanguessunga” e da “petrobais”.

Vivemos em um Brasil onde as músicas eruditas, a bossa nova, a tropicália, e a jovem guarda, com suas letras que misturavam cultura e poesia, deram lugar a canções como: “creu...”, “dói, um tapinha não dói”, “popozuda vem aqui com seu tigrão” ou até mesmo “segura o tchan”.... A propósito, a palavra tchan tem tradução na língua portuguesa? Machado de Assis e Olavo Bilac talvez estejam se “remexendo em seus túmulos”.

Na igreja o ministro de música convida a todos que se coloquem “de pé” pois nós “vamos estar cantando” um cântico. Em outra oportunidade, fui ao açougue comprar carne, quando um rapaz pede ao açougueiro “quinhentas gramas” de determinado produto. Não sabia que vendiam grama no açougue...

No trabalho ouço um cidadão pedir um celular com “vibrador”. Ora são situações que constrangem! Constrangem, pois percebemos que as pessoas perderam o compromisso com nossa língua, tão bela, nas palavras de Olavo Bilac. Constrangem pois a cultura da sociedade brasileira, ou a falta dela são nosso estereótipo.

Quer capixabas, quer paulistas, quer nortistas ou sulistas, todos estamos envolvidos na massa, e dela fazemos parte. Fazemos parte de uma sociedade que valoriza a bunda e não a mente. O Brasil é um país culturalmente rico, que tem uma história de 500 anos de superação. País de um povo que luta, que trabalha, mas que precisa estudar, precisa ler e absorver o que herdamos de nossos mestres. Não podemos deixar que a última flor do Lácio dê seus últimos suspiros.